quarta-feira, 29 de agosto de 2012

TESTEMUNHO FERNANDA BRUM



FERNANDA BRUM
pastora e ministra de louvor

"...Eu era pastora no bairro de Vicente de Carvalho perto do Morro do Juramento e voltava para casa quando coloquei a mão no teto do carro e disse: “Mil cairão ao meu lado, dez mil à minha direita, mas eu não serei atingida.” Fizemos a curva para o bairro de Inhaúma e três rapazes invadiam a pista e pulavam para calçada com se brincassem de atravessar a rua. Na nossa vez, um deles também pulou, eu achei que era brincadeira. Esse mesmo, puxou uma pistola ponto 40 e disparou 4 tiros em nosso pára-brisa. Isaac tinha 9 meses e estava na cadeirinha atrás com a Mema (babá). Emerson tentou desviar e eu vi quando as balas eram cuspidas da pistola e sumiam incandescentes diante dos meu olhos como se apagassem chegando ao vidro da frente. Batemos na mureta da linha do metrô e, como por reflexo, Emerson lançou o carro em cima do bandido. Ele correu para a calçada e continuou a...tirando. O cheiro de pólvora era forte dentro do carro e uma fumaça nos inebriou. “Estamos mortos”! Pensei. O bandido continuava atirando e dessa vez nos carros de traz. Matou o motorista da Kombi que vinha a seguir, atirou em um Honda Civic, em outra família. Eu gritei: “Ele não quer o carro! Emerson, corre!!! ”

O Emerson saiu em alta velocidade enquanto olhávamos se estávamos sangrando. Chegamos a uma patrulha na linha amarela e relatamos o acontecido. O policial estava sozinho e chamou outros pelo rádio. Heroicamente saiu ao encontro dos três que atiravam sem parar em quem passasse . Eles tinham ordem do comando para barbarizar os civis, pois um deles havia sido morto por policiais no dia anterior (viu ? eles pressionam o Estado, não que eu concorde, longe de mim!).

Seguimos para casa em choque. Eu pensava: “É assim que se morre. Devemos estar estirados no chão mas em nossas mentes achamos que estamos vivos. Onde estarão os anjos?” Seguimos para o condomínio onde morávamos. Saímos do carro e procurávamos os buracos de bala.Tiramos as roupas e fraldas do bebê Isaac de 9 meses. O viramos de cabeça para baixo. Olhamos uns aos outros milimétricamente à procura de furos de bala. Estávamos livres. Procuramos no carro os furos, não havia nenhum. Enfim eu disse: “Sobrevivi…”

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